Quem ainda não pegou numa ferramenta destas para fazer um teste? Muitos possivelmente já, inclusivamente, integraram a IA na sua rotina de criação de conteúdos… Eu confesso que os primeiros tempos não foram de todo animadores. Encontrei muita informação, sem dúvida, mas para utilizá-la tinha sempre que “arrumar a casa”. O “autor” parecia-me ser aquela pessoa que tem a possibilidade de fazer um exame com consulta, mas mesmo assim não consegue se soltar das palavras-chave atribuídas. Repetitivo, com uma estrutura única para qualquer tipo de artigo que seja requerido. Sem vontade de continuar a “brincar”, dediquei-me à leitura sobre o assunto, por ser teimosinha.
Qual é o meu espanto quando me deparo com especialistas a indicar qual o melhor caminho para um conteúdo mais à medida. Já conversou com a sua IA? Indique detalhadamente o que quer: em que tom quer, assuntos que gostaria definitivamente de abordar, que questões pretende levantar relativamente ao tema, indicar o que não quer incluir na narrativa, informar o máximo de caracteres, a forma como quer concluir ou se pretende deixar o leitor a pensar sobre um determinado assunto… Ah pois é!
É uma autêntica relação que se cria com uma plataforma, já cheguei a testar se um “por favor” ajudaria a obter uma resposta mais composta, mas pareceu-me desnecessário. Rapidamente temos a sensação de forçarmos o estabelecimento de uma conexão interna, na tentativa de conseguir que este pensamento crítico e detalhado ainda nos possa ajudar a simular que o texto é nosso, se ali pintarmos todas as cores com que habitualmente alegramos a nossa linguagem. Também rapidamente, podemos constatar que, para conseguir humanizar o texto com as nossas intervenções, devemos tratar – o mais possível – temas que estejam sob a nossa reserva. Não obstante, não me parece que foi para isso que esta ferramenta terá sido desenvolvida, logo contraditório.
Não existe dúvida que a IA tem revolucionado a forma como produzimos e consumimos conteúdos. Com algoritmos sofisticados e capacidade de análise de grandes volumes de dados, traz consigo uma promessa de uma rotina de triunfos, mas muito cuidado que também transporta uns fantasmas.
Ora promete eficiência e velocidade na criação de conteúdos de forma rápida e eficiente, reduzindo o tempo necessário para pesquisa, redação e revisão. Confere personalização, com base em partilha de dados sobre o público-alvo, conseguindo personalizar conteúdos para atender às preferências individuais de cada usuário, aumentando o envolvimento e a relevância. Com esta ajuda é ainda possível analisar grandes volumes de dados e identificar tendências, padrões e insights que seriam difíceis de detetar numa pesquisa tradicional, informando estratégias de conteúdo mais eficazes.
Ora nos enlaça com algoritmos que podem reproduzir e amplificar viés existente nos dados, resultando em conteúdos tendenciosos ou manipulativos. Podemos ainda incorrer o risco dos “nossos” conteúdos nos chegarem com a qualidade e autenticidade comprometidas, levando a uma experiência de usuário insatisfatória. Isto para quem não é especialista na matéria em questão, pode virar um verdadeiro pesadelo. Ainda por definir até que ponto a automação impulsionada pela IA pode ou não levar à substituição de empregos humanos na indústria de produção de conteúdo, gerando preocupações sobre o desemprego e a desigualdade.
Enquanto medimos forças, é essencial que aprendamos a usar a IA de forma crítica e responsável. Devemos aproveitar as suas capacidades para aumentar nossa produtividade e eficiência, mas também devemos estar cientes de suas limitações e potenciais consequências negativas. Não nos falhe a validação final, uma exaustiva revisão dos conteúdos gerados para garantir a sua precisão, qualidade e alinhamento com os valores e objetivos da marca que representamos.
Também muitos referem que as organizações devem ser transparentes sobre o seu uso na produção de conteúdo, apoia uma bolinha de cor, a definir, no topo do texto para identificação de “made by AI”? Para quem lê muito, alguns textos atuais nem precisariam desta identificação.
Levanta-se outra questão, seria mais ético? Uma vez que entramos nesta espiral, não há um momento de paz, para os mais existenciais… Ainda no campo de medir forças, não esqueça o exercício de incorporar elementos de criatividade, emoção e voz pessoal. Nesse sentido pode sempre adaptar o conteúdo para refletir a linguagem e os interesses específicos do público-alvo, criando uma conexão mais profunda e significativa ou até desenvolver uma técnica de contar histórias envolventes e cativantes que ressoem com as experiências e emoções humanas, tornando o conteúdo memorável e impactante. Por fim, e não menos importante, guarde sempre os seus guiões criativos para próximos pedidos de conteúdos!
Para nos aproximarmos de uma abordagem e linguagem humanas sem perder a sua função de agregadora de conteúdo, precisamos encontrar um equilíbrio delicado entre a automação e a nossa própria intervenção. Para isso é importante, embora assustador, que a IA seja continuamente treinada e atualizada com dados relevantes e que não falte feedback humano para aprimorar a sua aptidão de geração de conteúdo dentro desse equilíbrio desejado.
Adivinham-se tempos com produção de conteúdos a partir do desenvolvimento de algoritmos ainda mais avançados, aprimoramento da compreensão semântica e emocional e integração com outras tecnologias, como: realidade aumentada e realidade virtual. Podemos imaginar-nos a sair de casa, em casa!
No entanto, não nos esqueçamos das legítimas preocupações sobre o impacto da IA na sociedade, incluindo questões de privacidade, desigualdade e controle algorítmico.
Aspiramos um futuro em que a relação entre humanos e máquinas, na produção de conteúdos, deve ser baseada na confiança mútua, transparência e colaboração, com o objetivo de criar experiências significativas e impactantes para os usuários, enquanto abordamos proactivamente os desafios éticos e sociais associados à IA.
Identificou as bolinhas a cor?